domingo, 20 de outubro de 2013

Talvez



Talvez o poema, talvez as coisas de minha infância
talvez o amanhã, talvez algum canto imprevisto
talvez um pincel, talvez um Buda ou um Beethoven


De certo apenas eu


                                   - eu e as minhas instabilidades

Zen



mudo
mudo
o mundo

Felicidade



Dizem que a felicidade é uma linda mulher
Que depois de se banhar em perfume
Se veste em flores
E sai às ruas a colorir a paisagem


Mas há quem acredite que a felicidade
É uma velhinha que de tão frágil e tímida
Jamais saiu de sua casa

Céu e Inferno




eu tenho uma fome
que me come

eu tenho uma sede
que me sorve

eu tenho um vazio
que me plenifica

Carpe Diem



Poema inspirado no quadro e no texto do amigo Zé Renato



Morre-se a cada segundo.

Morre-se a cada segunda
Se qualquer segundo parece segunda.

Morre-se seguindo
O segundo que já passou
Ou que talvez nunca ocorrerá.

Cada segundo é sempre um:
Não há segundo segundo.

Morre-se e acaba o seu mundo
E nenhum segundo mais acontecerá.



(Cabedelo/PB, 26 de agosto de 2013)

Desembargador Trindade, 435



na rua da minha infância
há casas velhas
debaixo dos edifícios

há um caminho de pedras
sob o asfalto

há muros baixos
com belos jardins à mostra
dormitando atrás de muralhas

na rua da minha infância
há uma senhora louca
a vagar murmurando:
seu olhar ainda hoje me atemoriza

há gritos de irmãos
brincadeiras, festejos
e vozes do primeiro melhor amigo

na rua da minha infância
há um vestígio de mim



(Cabedelo/PB, 3 de setembro de 2013)

Anima Mundi



Eu não sou o fim
De mim mesmo
  

Eu estou com o outro
Eu estou no outro
Eu sou o outro

A Vida

para Maria Cecília



A vida às vezes é só um parto –
– nasce-se e pronto


A vida às vezes é só um porto
– parte-se e pranto


A vida às vezes é só um ponto
de interrogação

  

(Campina Grande/PB, 26 de dezembro de 2012)

Orobolus



Tudo
A todo tempo
Se move

Tudo
A todo tempo
Morre

Viver é movimento
Mas também
É morte



(Campina Grande/PB, 31 de agosto de 2013)

Shopping



antes havia o rio
havia o mangue
hoje existe o shopping

antes havia a pesca
havia o nado das crianças
hoje existe o concreto

antes havia o canto dos pássaros
havia o farfalhar das árvores
hoje existe o ronco dos automóveis

antes havia mata atlântica
havia imbaúbas, ipês e sucupiras
hoje existem muro e seguranças

antes havia capivaras
havia caranguejos, pássaros e saguis
hoje existe o tilintar da moedas

onde antes havia vida
hoje correm apenas as memórias
de um rio morto




(Cabedelo/PB, 12 de outubro de 2013)