DIÁLOGO
DO SHOPPING COM O RIO
Para Ananda e Mariana.
E um belo dia o Shopping informou ao Rio que
teria de invadi-lo mais uma vez:
– Eu quero me expandir. É preciso ampliar o
estacionamento e construir mais lojas. Cada dia é maior o número de clientes. Não
é nada pessoal, mas o desenvolvimento econômico exige isso.
O Rio faz a seguinte ponderação:
– Eu entendo o seu lado. A questão é que sempre
estive aqui, muito antes de qualquer construção ou intervenção humana. Logo, é
um direito natural meu permanecer aqui, sem sofrer qualquer tipo de agressão.
É claro que o Shopping discorda:
– Você não entende: eu gero empregos,
qualifico a mão de obra e contribuo para a arrecadação tributária do Estado. Afora
isso, eu ofereço serviços, produtos e opções de lazer à coletividade.
Por sua vez, o Rio não se conforma:
– Você é que não entende: eu ofereço banho de
rio, caranguejos, cultura ribeirinha, paisagem, peixes.
E ofereço também um serviço ambiental que só os rios podem prestar quando levo
as águas que banham os continentes diretamente para o mar, ajudando nos fluxos
de energia e matéria dos ecossistemas e proporcionando a estabilidade do meio
ambiente.
O Shopping tenta finalizar:
– Se você oferece alguns benefícios e eu
outros, é possível afirmar que somos mais ou menos equivalentes. A diferença, contudo,
é que os meus benefícios são considerados mais importantes pela maioria da
população, que se preocupa apenas com emprego e renda. Portanto, será você que
deverá a área, afinal de contas o poder econômico é sempre quem prevalece.
O Rio, no entanto, arremata:
– É um equívoco acreditar que somos
equivalentes, pois os shoppings podem ser construídos em qualquer local e os rios
não. Com efeito, os rios só existem na declividade mais baixa do relevo, fazendo
com que as aguas possam escoar e correr por eles. Além do mais, eu gero vida, e
a vida é a essência de toda atividade social, o que inclui, por obvio, as
atividades econômicas. Sem o adequado funcionamento dos rios toda a cadeia
ecológica fica comprometida, o que coloca em risco a própria continuidade da
existência humana sobre o planeta. O problema é que essa relação de causa e
efeito nem sempre é tão direta assim, daí as pessoas não atribuírem ao assunto a
importância necessária.
Diante do silencio do Shopping, o Rio ainda complementa:
– Ah, tem mais uma coisa: os rios despertam os
apaixonados e inspiram os poetas. Vai dizer que os shoppings fazem isso também?...
Cabedelo/PB, 17 de
julho de 2014.
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