Raízes

para Maria Cecília

derrubaram a árvore

do quintal

da minha infância

derrubaram a casa

da minha infância

a rua onde cresci

também deixou de existir

a cidade mudou

os velhos amigos

não estão mais

tudo o que eu vivi

passou para a eternidade

- as cores, os cheiros

os sons, os medos

os gostos, as felicidades...

as raízes estão no ar

como fantasmas

a latejar pelo caminho

o momento passado

foi a única coisa que

não perdi

(Cabedelo/PB, 21 de dezembro de 2013)

Lis

o teu poema

é construído no escuro

e no silêncio

despertado de um sono

explode no peito

qual uma flor rara

o que a palavra

não revela

a alma vela

na cidade diferente

apenas dorme em paz

o relógio

Cabedelo/PB, 18 de dezembro de 2013.

Haikai Ecológico

também se mata

quem desmata

a mata

Desenvolvimento

no lugar da antiga reserva de mata atlântica

que a incorporadora suprimiu

foi erguido o condomínio horizontal

a que se chamou de “floresta nova”

o leito do rio que cruza a cidade foi aterrado

e lá se construiu um centro comercial

batizado com o nome de “shopping das águas”

o velho sobrado do barão

cedeu espaço a uma imenso edifício residencial

conhecido como “a torre do sobrado do barão”

a montanha da zona sul

foi transformada em pó pela mineradora

que depois usou a área para pasto

da fazenda/empresa “montanha dos sonhos”

– enquanto o meio ambiente é vendido

alcunhamos o produto resultado da degradação

de algum tema ambiental

e assim todos nos pensamos sustentáveis

cabedelo/PB, 6 de dezembro de 2013