viver é sempre
por enquanto
tudo é incerto
é instável
mas viver também
pode ser
encanto
tudo é aberto
e inimaginável
viver é sempre
por enquanto
tudo é incerto
é instável
mas viver também
pode ser
encanto
tudo é aberto
e inimaginável
talvez
em Deus
talvez
na arte
talvez
no amor
talvez
na lida pela sobrevivência
(...)
talvez
o sentido da vida
seja
apenas
procurar
um sentido para a vida
– e de
alguma maneira
é
isso que nos justifica
encontrar o amoràs vezesé questãode sortemas tambémpode sera própria morte(amarsempre éperder o norte)
que esse desejo
de ir embora
seja somente a vontade
de viver o agora
(a vida às vezes
nos espera
do lado de fora)
ontem
o meu dia foi maravilhoso
tudo
correu bem no trabalho
na
família
fiz
caminhada
meditei
reencontrei
amigos queridos
tive
boas notícias sobre alguns parentes
até
recebi um dinheiro inesperado
inobstante
isso
já
de noite
senti
uma tristeza imensa
durou
apenas um minuto, talvez um segundo
mas
eu trocaria toda a felicidade do mundo
para
não pisar mais
nos
abismos que carregamos na alma
quando
me lembro dela
nua
até parece
que viajo
para a lua
(o mundo perde
a gravidade
eu me derreto
em saudade)
eu poderia dizer
te amo infinito
te amo o mais bonito
te amo enormemente
te amo absurdamente
te amo com todo meu ser
te amo até a eternidade
mas eu te amo
já significa tudo isso
e ainda sempre mais
alguma coisa
nos desconecta
nunca
escrevo
apenas
me descrevo
(toda palavra
me lavra
cada sentença
me sentencia)
a poesia é
o espelho
daquilo que eu
jamais faria
viver
nunca foi
preciso
navegar
também
não
amar
tampouco
(mas tudo isso
é louco
na vida
só o impreciso
é precioso)
ontem de manhã
do nada
um poema me apareceu
apressado
eu não parei para escrever
e ele sumiu no ar
fico agora me perguntando
meio arrependido
como seria essa poesia
o mundo às vezes nos chama
como um ladrão
a dizer: "a bolsa ou a vida"
há tempos
guardo palavras
no peito
são tantas
e tantas
que dariam a volta
no universo
às vezes
elas me deixam
cansado
nada pesa
tanto
outras vezes
se misturam
e sai um poema
e teve uma vez
que eu montei nelas
e sai voando pela janela
e nunca mais voltei
há um poema
que fiz
para você
só que
nunca o escrevi
ele fica eternamente
bailando no ar
e muda sempre
de palavras
sentidos
e sonoridade
está sempre
a se reescrever
(que forma
poderia ter
o verbo amar?)
o bigode
de hitler
era ridículo
também era
ridícula
a forma como
ele olhava
falava
andava
e gesticulava
mas ele
chegou ao poder
e matou milhões
de judeus
além de gays
ciganos
aleijados
um folclórico
um ridículo
no poder
é tudo
menos ridículo
(o facismo
só fascina
porque é fácil)
dizem que a coisa
mais pesada do universo
é o elemento químico de número 117
o ununséptio
há também quem fale
que seria a pirâmide de gizé
as sequoias gigantes da califórinia
a baleia-azul
a ponte china-estados unidos (que ainda nem existe)
o everest
a cordilheira dos andes
a groelândia
ou a pasta nuclear
para mim
no entanto
a coisa mais pesada do universo
é a conjunção condicional “se”
se não tivesse me casado
se tivesse me separado
se não tivesse me calado
se tivesse feito mais pelos outros
se não tivesse feito esse curso
se tivesse tido maior cuidado
se não tivesse gastado tanto
se tivesse lutado mais
(o mais pesado não é escolher
mas saber conviver
com as escolhas que fizemos)