dever
à
vida
ver
a
vida
ou
viver
a
vida
há tempos
guardo palavras
no peito
são tantas
e tantas
que dariam a volta
no universo
às vezes
elas me deixam
cansado
nada pesa
tanto
outras vezes
se misturam
e sai um poema
e teve uma vez
que eu montei nelas
e sai voando pela janela
e nunca mais voltei
há um poema
que fiz
para você
só que
nunca o escrevi
ele fica eternamente
bailando no ar
e muda sempre
de palavras
sentidos
e sonoridade
está sempre
a se reescrever
(que forma
poderia ter
o verbo amar?)
o bigode
de hitler
era ridículo
também era
ridícula
a forma como
ele olhava
falava
andava
e gesticulava
mas ele
chegou ao poder
e matou milhões
de judeus
além de gays
ciganos
aleijados
um folclórico
um ridículo
no poder
é tudo
menos ridículo
(o facismo
só fascina
porque é fácil)
dizem que a coisa
mais pesada do universo
é o elemento químico de número 117
o ununséptio
há também quem fale
que seria a pirâmide de gizé
as sequoias gigantes da califórinia
a baleia-azul
a ponte china-estados unidos (que ainda nem existe)
o everest
a cordilheira dos andes
a groelândia
ou a pasta nuclear
para mim
no entanto
a coisa mais pesada do universo
é a conjunção condicional “se”
se não tivesse me casado
se tivesse me separado
se não tivesse me calado
se tivesse feito mais pelos outros
se não tivesse feito esse curso
se tivesse tido maior cuidado
se não tivesse gastado tanto
se tivesse lutado mais
(o mais pesado não é escolher
mas saber conviver
com as escolhas que fizemos)