sábado, 29 de dezembro de 2018

Kung-Fú

Kung-Fú


Não fazia sequer um mês de treino de Kung-Fú eu já comecei a me sentir muito bem. Com o passar dos meses essa sensação se ampliou consideravelmente. A cada dia eu dormia menos e trabalhava mais. Os amigos e conhecidos não cansavam de elogiar a minha disposição e meu humor. Eu me tornei o advogado mais produtivo do escritório, à noite eu era o melhor aluno da pós-graduação. Era incrível a minha facilidade para fazer trabalhos intelectuais ou manuais! Além da parte física, que tomava a maior parte do tempo das aulas, o Mestre Yau também falava sobre a filosofia taoísta e ensinava a prática da meditação de olhos abertos. Como os eventuais impedimentos de treinar me deixavam apático e cansado eu passei a frequentar as aulas todos os dias – exceto no domingo, que era o único dia em que a academia não abria. No início houve uma resistência do Mestre, que recomendava aos alunos apenas três treinos por semana. Eu era sempre o primeiro a chegar e o último a sair da academia. Se havia algum problema eu sempre me oferecia para resolver (limpeza, parte elétrica, parte hidráulica etc). A dedicação era tamanha que me tornei aluno assistente, uma espécie de monitor do Mestre. Quando a aula na academia era de manhã eu treinava em casa à noite, e vice-versa. Os domingos e feriados eram oportunidades para fazer um treinamento mais aprofundado, uma vez que nesses períodos não havia trabalhos. Eu comecei a evitar festas e até encontros com familiares ou amigos porque aquilo atrapalhava a rotina de luta. Minha alimentação também era diferenciada, sem carnes, açúcar, massas ou qualquer produto artificial, o que também me distanciava das antigas amizades. Minha família agora era a academia! Após três anos de prática intensa eu não conseguia dormir mais de uma hora por dia, e estava sempre alegre e animado. Enquanto comia e dormia cada vez menos eu praticava cada vez mais a arte marcial chinesa. Eram quatro, cinco, seis, sete horas de treino por dia! Os amigos e familiares diziam que eu estava exagerando, às vezes até os colegas da academia diziam isso. Eu, no entanto, achava exatamente o contrário: eu entendia que precisava treinar mais para poder seguir os passos do Mestre. Quando completei sete anos de treino eu pedi demissão do escritório para poder me dedicar com exclusividade à academia. O fato de ganhar bem e de gastar pouco, aliado aos investimentos que realizei, fizeram com que eu pudesse fazer apenas o que gosto. O Kung-Fú é mais importante do que o dinheiro, a família, a profissão, a religião, tudo! Se acordo, se durmo, se escrevo, se leio, se medito, se me alimento, se me movimento ou se respiro, é tudo por obra e graça dessa arte marcial milenar. A felicidade que eu sinto é indescritível e inigualável, não havendo dinheiro ou reconhecimento que pague por isso. O Kung-Fú me ensinou que a realização está no corpo e não na alma ou na mente, mas para isso ele exige a entrega da vida por inteiro.

domingo, 23 de dezembro de 2018

Natal, 2018




fácil
desejar
feliz natal

a todos nós


difícil
desejar
feliz natal

a todos nús



(difícil mesmo
é desatar

todos os nós)







(23.XII.2018)