A
vida não perdoa ninguém
Eu
tinha um namoro de quase quinze anos e o casamento marcado para o mês
seguinte quando conheci Renata em uma viagem de trabalho. Nós
conversamos sobre literatura, música, política, religião tudo.
Fizemos amor loucamente e depois fizemos de novo ainda mais
loucamente. Enfim, nos apaixonamos. Apesar disso eu também gostava e
me identificava muito com Marcela, minha noiva. Acabei não
desmarcando o casamento e tive três filhos, duas meninas lindas e um
garotinho igualzinho ao pai. Mas os anos foram passando e a
infelicidade tomou conta do meu coração, da minha vida. Comecei a
me sentir cada vez mais preso, mais triste, não tinha mais vontade
de fazer nada. O arrependimento por ter ficado com Marcela tomou
conta de mim a tal ponto que nada fazia sentido. Um dia eu resolvi me
matar quando de repente apareceu do nada um velhinho enigmático que
me concedeu o direito de voltar no tempo. Lá estava eu casado com
Renata, com três filhas lindas. Depois começaram as brigas, os
desencontros de sempre. Somente aí eu percebi que amava Marcela, que
somente ela me entendia e me alcançava, e que eu precisava
desesperantemente dela. No entanto, já era tarde demais: eu estava
amarrado àquela situação enquanto Marcela estava muitíssimo bem
casada com Alessandro, que na vida anterior era o marido de Renata.
Nesse momento eu desejei que o velhinho voltasse e me oferecesse a
opção de nunca ter existido. Mas a vida não perdoa ninguém.
Cabedelo,
19.10.2018